Open internet television: um sonho comunitário ou um esforço colaborativo para um bem maior para o qual todos podemos contribuir? Esta é a pergunta que Jeremy Allaire e Adam Berry da Brightcove fazem publicamente nesta carta aberta que escreveram para a Consumer Electronic Show que se realizou em Las Vegas.
Crédito da imagem: Ivan Stevanovic
O falhanço da indústria em oferecer, e dos consumidores em exigir a adopção de padrões abertos eficazes para a televisão pela internet ainda evita que todos nós, possamos obter o melhor possível do fantástico casamento da televisão online e da TV tradicional.
Mais limitações são também atribuídas ao facto de que os dispositivos de vídeo na internet actual têm vários padrões, logo não existe consistência de formatos, a maioria dos dispositivos não oferecem acesso directo aberto a websites de partilha de vídeo e nenhum destes dispositivos oferece um modelo de desenvolvimento simples e aberto para que os criadores de serviços Web criem e disponibilizem conteúdo e serviços personalizados.
"Muitos editores de conteúdos são impedidos, ou não se dão ao trabalho de investir na transmissão de conteúdo nos sistemas fechados. Os consumidores perdem no conteúdo a que poderiam assistir e os criadores perdem nas vendas que poderiam realizar com os novos dispositivos."
Não é preciso dizer que a verdadeira solução é a adopção de padrões da indústria que permitam que aparelhos televisivos "se juntem aos PCs e telemóveis como cidadãos de primeira na Internet aberta", numa forma que simplifique a ligação de qualquer TV à Internet, permitindo browsing simples e imediato, e visualização de conteúdo de vídeo online.
"A solução não é simplesmente converter as TVs em PCs com browsers tradicionais."
Aqui está a carta completa, original e não editada para a CES:
por Jeremy Allaire e Adam Berrey
Caros Líderes da Indústria Electrónica de Consumo,
Tal como uma reposição que é repetida há vários anos, 2008 descola na anual Consumer Electronics Show (CES) com a promessa de dispositivos convergentes que permitirão que o vídeo chegue facilmente à sala de estar através da Internet aberta.
Mas, como nos anos anteriores, as ofertas são desapontantes.
São demasiado complicados, demasiado caros e, mais importante, demasiado fechados.
Crédito da imagem: Ophelia Cherry
A TV pela Internet já está a transformar a forma como as pessoas são entretidas, educadas e informadas.
A Internet está a tornar-se na nova plataforma de distribuição para conteúdo vídeo e um claro rival para o cabo e transmissão terrestre.
O volume de conteúdo de vídeo comercial e original na Internet aberta está a ultrapassar largamente qualquer plataforma anterior para distribuição de vídeo.
Centenas de milhões de vídeos, que variam de curtas e de conteúdos engraçados criados pelos utilizadores, ao melhor dos êxitos televisivos, a dezenas de milhares de canais comerciais e não comerciais de programação, estão agora disponíveis instantaneamente e on-demand na Internet.
Hoje, o dispositivo primário para que o consumidor encontre e assista a esse conteúdo é o PC, mas a oportunidade está lá para tornar esse dispositivo na televisão, que pode apresentar conteúdo de vídeo numa forma que os PC nunca poderão igualar.
O resultado seria converter o centro de entretenimento caseiro num portal para um impressionante espectro de conteúdo de todos os géneros de todo o mundo.
Infelizmente, esta oportunidade está a ser desperdiçada para a indústria e consumidores pela falha dos produtores de CE ao aceitarem um padrão aberto para entregar conteúdo de vídeo pela Internet directamente às TVs.
Existem dois problemas com as tentativas que vimos até à data em trazer vídeo da Internet às TVs:
a) são demasiado complicados e
b) não são abertos.
As estratégias mais visadas centram-se na ligação das TVs a PCs utilizando uma variedade de dispositivos de ligação incluindo Windows Media Center extenders e Apple TV.
A ideia por detrás desta abordagem é que os consumidores irão utilizar o seu PC para encontrar, fazer download e organizar conteúdo que irão depois assistir na sua TV. Embora isto possa ir de encontro às necessidades de utilizadores avançados de PC, para o espectador típico de TV, o passo extra de ligar um PC à sua TV é demasiado complicado.
Ainda pior, ter que mudar da experiência básica de browsing do sofá para uma cadeira em frente a um PC muda toda a concepção de ver TV - privando-a de zapping redundante.
Uma limitação ainda maior do que a complexidade, é o facto de que as estratégias de hoje são fundamentalmente fechadas:
Ao contrário da Web de PC e telemóveis, que são criadas sobre padrões abertos, o ecossistema de electrónica para o consumidor não oferece um conjunto de padrões abertos para que os media online cheguem às televisões.
O falhanço em aceitar os padrões abertos significa que nenhum ecossistema pode florescer em torno da tecnologia.
Muitos editores de conteúdos são impedidos ou não se dão ao trabalho de investir na transmissão de conteúdo nos sistemas fechados. Os consumidores perdem no conteúdo a que poderiam assistir e os criadores perdem nas vendas que poderiam realizar com os novos dispositivos.
Crédito da imagem: Niserin
A solução é um padrão da indústria que permita que os aparelhos televisivos se juntem aos PCs e telemóveis como cidadãos de primeira na Internet aberta.
Os padrões abertos que definiram os browsers Web nos PC alimentaram indústrias inteiramente novas, aproximaram centenas de milhões de pessoas através da Internet, ligaram-nos a um grande conjunto de informação e mudaram fundamentalmente o que significa utilizar um computador.
Precisamos de um novo conjunto de padrões abertos que tornem imediata e simples, a ligação de qualquer televisão à Internet, a navegação e pesquisa de vídeo e que permita assistir a streams on-demand a partir de qualquer parte do mundo.
A solução é simplesmente converter as TVs em PCs com browsers tradicionais, porque fundamentalmente a experiência de utilizar uma TV é diferente da de utilizar um PC. Não existe teclado ou rato, apenas um comando.
Por isso precisamos de um novo conjunto de padrões que são especificamente concebidos para permitir a navegação e visualização de vídeo da Internet numa televisão, utilizando convenções de interface de utilizador que são apropriadas para o dispositivo.
Como vemos, os padrões devem ser criados com base em quatro pilares:
Crédito da imagem: Darren Whittingham
As TVs devem estar ligadas directamente à Internet através de redes domésticas, Wi-Fi, WiMAX e Ethernet.
Crédito da imagem: Solarseven
Cada TV deveria possuir um Internet Media Browser (IMB) concebido para procurar, navegar e visualizar vídeo da Internet. Ao contrário de um browser Web, o IMB como padrão deveria ser concebido em torno de um objectivo mais específico de navegar e pesquisar streaming vídeo e música. O IMB seria como o guia de programação electrónica por cabo (EPG) para conteúdos da Internet. Com o IMB, os consumidores deveriam ser capazes de pesquisar através de qualquer catálogo de media publicado na Internet e fazer stream de vídeos e áudio directamente para a sua TV. O IMB deve cuidar da reprodução de codecs padrão incluindo MP3, Flash Video (VP6), H.264 e VC-1. Finalmente o IMB deveria suportar um modelo de programação simples, padrão que permitisse a inserção de anúncios e integração de análises através de protocolos Web.
Crédito da imagem: Foottrack
Para ter listagens e conteúdos nos Internet Media Browsers, iremos precisar de um padrão para que qualquer editor da Internet publique catálogos de conteúdos media. Provavelmente utilizando XML, este padrão ofereceria uma forma simples para que qualquer website com conteúdo media listasse esse conteúdo, acompanhado dos meta-dados, como o título e descrição e ligações aos ficheiros originais. Este padrão significaria que independentemente do dispositivo, um IMB fosse capaz de apresentar facilmente as listagens e aceder ao conteúdo em streaming. A relação entre o padrão de publicação e IMBs seria como a relação entre RSS e leitores RSS.
Crédito da imagem: Hans Doddema
O componente final é um que criaria uma ligação natural entre o Web browsing num PC e o Internet Media Browsing de uma TV. O núcleo disto é um padrão para registar serviços com um serviço on-line onde os consumidores podem guardar os links para os catálogos de media aos quais gostariam de aceder a partir da sua TV. Com este mecanismo em prática, seria simples que alguém clicasse num link de uma página Web dizendo "Eu quero assistir a isto na minha TV", e ter o vídeo ou colecção de vídeos registados on-line e disponibilizados automaticamente na sua TV da próxima vez que a ligar. Ao tornar isto num padrão aberto, as empresas que fornecem serviços poderiam competir num mercado aberto e os consumidores poderiam escolher o serviço que pretendem, seja ele de um produtor, rede social, portal ou outro.
A descrição aqui tem a finalidade de apresentar esquematicamente o que é possível e alterar o percurso para uma nova direcção.
A indústria CE e a indústria da Internet já têm corpos de padrões estabelecidos que podem definir os pontos específicos, e é altura que esses corpos de padrões respondam ao desafio de criar padrões abertos para browsing e reprodução de streaming media da Internet directamente nas TVs.
Crédito da imagem: Yuri Arcurs
A tecnologia central e conteúdos estão prontos.
Já existe uma economia de vídeo on-line na Web que oferece valor para os consumidores, editores de conteúdos, anunciantes e construtores de PCs.
Os produtores de CE têm que acordar e juntar-se à carruagem.
Têm que parar de se dedicar a sistemas fechados e ajudar a cultivar uma nova era na distribuição de vídeo na Internet aberta que possa tocar em todas as televisões do planeta.
Abrir a televisão para a Internet permitirá que os editores de conteúdos façam o que fazem de melhor, dar aos consumidores uma experiência muito melhor do que a que têm hoje e, finalmente potenciar o crescimento na indústria de CE.
Saudações
Jeremy Allaire Adam Berrey
Presidente & CEO da Brightcove
SVP de Marketing & Estratégia da Brightcove
Originalmente escrito por Jeremy Allaire e Adam Berry para a Brightcove e inicialmente publicado como "Open Internet Television: A Letter to the Consumer Electronics Industry" a 7 de Janeiro de 2008.