Como será o futuro do ensino?
Graças ao meu bom amigo e especialista de aprendizagem empresarial e escritor independente Jay Cross, tive a sorte de conhecer Teemu Arina, um jovem professor finlandês, com boas ideias, um cérebro plenamente funcional e uma visão para o futuro que poucos conseguem atingir.
Crédito da Imagem: Lotta Viitaniemi - Robin Good entrevistando Teemu Arina no parque do Castelo S.Angel em Roma
Descobri que Teemu é um verdadeiro pensador, que gosta de expandir as definições do que é possível e impossível. De mente aberta e capaz de analisar pontos de vista que divergem dos seus, ele é também um indivíduo pragmático, compreendendo os verdadeiros limites e restrições que impomos a nós próprios através das infra-estruturas profissionais e sociais que construímos à nossa volta.
O nosso foco de interacção, nesta primeira parte da nossa entrevista, é o futuro do aprendizagem e a relevância que termos como "aprendizagem informal" e "aprendizagem móvel" irão ter num futuro próximo.
Ás minhas questões, Teemu Arina responde com preciosa lucidez e expandindo as fronteiras para além do que deveremos prestar atenção na aprendizagem, comunicação e vida profissional. (Os vídeos são seguidos por uma transcrição em Português da nossa conversa.)
Robin Good: Quem és e o que fazes?
Teemu Arina: Eu sou o Teemu Arina, sou da Finlândia, Helsínquia. Tenho uma empresa chamada Dicole, da qual sou o presidente. Trabalhamos com software social, na vertente da consultadoria. Tenho cinco pessoas a trabalhar comigo para levarmos o software social para as empresas na Finlândia.
Robin Good: Teemu, o que é aprendizagem informal?
Teemu Arina: Bem, é muito difícil definir o que é aprendizagem informal... Para alguns é "aprendizagem não formal", que significa aprender fora da escola, fora de estruturas formais. Para mim, a aprendizagem informal é algo que é mais social, mais direccionado para os estudantes e não para os professores. Bem, é a vida: a vida é aprendizagem informal.
Robin Good: Então é algo que podes realmente gerir, manipular e levar para as empresas?
Teemu Arina: Penso que isto é um dilema. Se tentares apoiar a aprendizagem informal, rapidamente se torna em formal. Penso que podes
investir num tipo de estruturas que apoiem a aprendizagem informal.
Por exemplo, podes fazer praças como em Roma, onde as pessoas se podem encontrar e partilhar conversas informais. Mas não podes delinear uma forma exacta
de como as pessoas aprendem informalmente. É mais sobre criar um ambiente que suporte a interacção informal.
Robin Good: Existem novas tecnologias multimédia que tenhas usado para facilitar a criação de ambientes que sejam mais propícios para a aprendizagem informal?
Teemu Arina: Além do software social, os wikis e os blogues são frequentemente
considerados por especialistas de tecnologias de educação como ferramentas de aprendizagem informal. Quando olho para as empresas, vejo estas ferramentas
como algo contrário às tecnologias tayloristas como o Groupware e as intranets, onde o controlo está, maioritariamente, do lado da gestão (por exemplo no departamento de TI).
Estou tentado e pensar no software social como algo que pode suportar a interacção formal: pode
ajudar a terminar as coisas quando os processos formais falham. Desse ponto de vista, vejo os blogues como ferramentas que suportam práticas reflectivas.
Quando fazes alguma coisa, tens que parar para reflectir, tens que aprender qualquer coisa: os wikis ajudam a reunir essas reflexões através da acção colaborativa. Isto é importante para a criação de conhecimento, novas ideias e para se saber o que fazer a seguir.
Robin Good: E sobre a aprendizagem móvel? O que é? Está a chegar?
Teemu Arina: Há alguns anos atrás, a Finlândia era muito forte na vertente móvel e as pessoas riam-se da ideia de aprendizagem móvel. Mas acho que está a chegar. Acho que se está
a integrar com o espaço da aprendizagem informal, porque ser móvel significa que o contexto está à tua volta.
Não dizes as coisas numa sala de aula fora de contexto, não estás sentado num curso formal numa empresa. Mas estás realmente lá, onde precisas de estar. Tens que aplicar o contexto ao próprio contexto. Eu acho que o que a aprendizagem móvel faz é: permite-nos usar um contexto de uma forma melhor.
Robin Good: Como vês a aprendizagem móvel a acontecer num futuro próximo?
Teemu Arina: Bem, vejamos as conferências como exemplo: quando as pessoas vão a conferências, geralmente fazem-no devido a outras pessoas, não por causa dos conteúdos. O conteúdo é apenas o objecto de partilha para que as pessoas se reunirem. Penso que temos que realçar a interacção social que acontece em tais situações onde as pessoas se encontram. É aí que as tecnologias móveis são úteis.
Estou agora em Roma e, para mim, a aprendizagem é sobre as pessoas; estive a conhecer-te a ti e aos teus amigos e isso é a mesma coisa que conhecer pessoas
em conferências. Por isso as tecnologias móveis permitem-me ver o que é que as outras pessoas estão a pensar e ir de encontro aos seus interesses, o que cria
a oportunidade para partilharmos uma conversa.
É como ligar o espaço virtual e físico, e é aí que penso que a aprendizagem
informal está de momento a falhar no campo da tecnologia educacional: não estamos a dar importância suficiente ao significado dos espaços físicos
e jardins para as reuniões. Quando vemos tecnologias móveis, sociais e espaços físicos relacionando-se muito bem, acho que é quando sabemos o que é a verdadeira aprendizagem.
Robin Good: Está basicamente a defender algo que pareceria ser a vida normal tal como deve ser?
Teemu Arina: Mais ou menos... Mas acho que o papel dos professores se mantém: eles ajudam as pessoas a aprender mais depressa do que se o fizessem sem eles. Eles são guias com uma luz a mostrar o caminho a seguir. Iremos voltar aos tempos antigos das conversas platónicas, o que significa ter conversas com pessoas que te ajudam a ter ideias ao fazer as perguntas certas.
É isso que estás a fazer, Robin: estás a fazer as perguntas certas. Quando a aprendizagem móvel e a aprendizagem informal se cruzam, são como a vida normal e acho que esse é o rumo a tomar.
A revolução industrial criou a necessidade de estruturas que eram úteis: mas no futuro acho que iremos longe demais, vendo as pessoas - como Max Weber diria - engrenagens nas máquinas. Pessoas tipo pequenas engrenagens a tentar ser grandes.
Temos que integrar o humano na máquina também. Não é sobre as pessoas tornarem-se máquinas mas sim o contrário: é as máquinas tornarem-se mais humanas. Isso é diferente, não é apenas a vida, é também tecnologia... E acho que o uso correcto da tecnologia é a interacção social.
Robin Good: Para aqueles que querem fazer parte destas novas mudanças que acabaste de descrever, há alguma fórmula, algo simples para que se mantenham à frente dessas mudanças? Há resposta possível? Como poderei estar na vanguarda com a minha organização para este tipo de coisa aconteça lá?
Teemu Arina: Acho que há algumas coisas que precisa de fazer. Uma delas é aumentar o serendipismo, que é a interacção acidental entre pessoas, talvez por criar "terceiros lugares" eficazes. Refiro-me a lugares entre a casa - que é o primeiro lugar - e o trabalho ou escola - que são os segundos lugares. O terceiro lugar é onde podem fugir da escola, das exigências da família e das exigências do patrão para partilharem conversas úteis.
Um lugar que não esteja ligado por tecnologia, onde as pessoas se conhecem e podem interagir em tópicos de diferentes áreas. Se investir em tais ambientes onde pode ter tais conversas com os seus empregados, então começará a ter ideias de vários pontos de vista diferentes do seu.
É muito fácil ter uma visão redutora de pensamento quando procura discussões racionais na sua organização. Tem que procurar por novos ambientes existentes fora da sua organização e deixar as pessoas irem lá e partilhar conversas.
Robin Good: Num minuto, dá-me uma definição do que é o conectivismo.
Teemu Arina: Eu não sou perito em conectivismo, mas a minha percepção sobre o assunto é baseado na ideia de que é um aspecto de aprendizagem centrado na forma em como a tecnologia afecta a aprendizagem. O conhecimento pode residir em dispositivos não humanos para que se possa distribuir conhecimento em diferentes sistemas.
O computador torna-se num nódulo na sua rede de aprendizagem.
Basicamente, é sobre enaltecer mais a ligação do que o conteúdo que atravessa a ligação. George Siemens diria que o cano é mais importante do que o que corre dentro do cano.
Robin Good: Se pudesses fazer um milagre, o que mudarias no mundo da aprendizagem?
Teemu Arina: Só uma coisa: possivelmente a mentalidade dos alunos, mudando a ideologia de ganhar pontos e ser recompensado para aprender algo de facto. Vejo universidades e escolas cheias de gente que estão apenas lá, pouco interessadas no que estão a fazer, achando o tempo escolar como uma interrupção das suas vidas rumo ao que realmente querem fazer.
Quando estão a desperdiçar o tempo deles em coisas que realmente não lhes interessa. Por isso, a maior mudança que quero fazer é que as pessoas possam trabalhar no que lhes interessa e que compreendam o seu valor.
Robin Good: O que é um professor?
Teemu Arina: Eu gosto da definição dada por Stephen Downes: o papel do professor é o de modelar e demonstrar e o do aluno é o de reflectir e praticar.
O papel do professor é o de mostrar diferentes pontos de vista da mesma coisa que é importante perceber.
Não olhas para o céu do mesmo ponto de vista todas as vezes para saberes o que está de errado com o planeta. O professor mostra diferentes perspectivas para essas construções interligadas à nossa volta.
Robin Good: Eu pensava que os professores eram aqueles tipos, nas escolas e universidades, que controlavam a sala de aula e começavam a falar sobre o que quisessem sem permitir nenhum tipo de interacção com as pessoas sentadas à frente deles. Então o que chamas a essas pessoas?
Teemu Arina: Há um termo técnico chamado "sistemas de gestão de
conhecimento" e está errado. É um "sistema de gestão de ensino". As pessoas que usam este sistema estão de facto a gerir coisas, não são líderes. Gestores gerem coisas, líderes lideram pessoas. Não lideras pessoas dizendo-lhes o que fazer e o que ver.
Na realidade, incentiva-los para irem numa direcção que é colectivamente útil. É este que deve ser o papel dos professores no futuro: eles devem ser líderes, em vez de gestores. Eles devem ajudar pessoas a terem novas ideias em vez de serem a fonte de ideias.
Robin Good: Como vê o mundo depois do ensino? Estamos a sair-nos bem? Mais ou menos? Não muito bem? O que acha?
Teemu Arina: Eu acho que a blogosfera e as conversas que nela têm lugar estão a fazer avançar as comunidades, mais rapidamente na direcção que queria ver.
Acho que é como o aquecimento global: vemos o problema (p. ex. vemos o problema da aprendizagem e ensino) mas é como que acordasse de manhã e não vemos problema nenhum - ainda - por isso não se faz nada acerca disso. Um dia acorda-se e é um desastre.
Talvez devêssemos ser mais proactivos em vez de reactivos sobre a aprendizagem e o conhecimento.
Sobre Teemu Arina
Teemu Arina é parceiro e CEO da Dicole, uma empresa que se centra em compreender o papel das tecnologias sociais e trabalho de conhecimento e aprendizagem em rede nas empresas. Teemu é um programador, professor, consultor, trabalhador em rede, mentor, entusiasta, aprendiz e artista independente que tem um profundo interesse no Open Source, na aprendizagem em rede, colaboração, trabalho cooperativo, software social, sistemas auto-organizados, complexidade, redes e tecnologias emergentes relacionadas.
Originalmente escrito por Robin Good e publicado pela primeira vez na MasterNewMedia.
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