Software Social é um conceito que agrupa todos aqueles meios de interacção baseados na Web (blogues, wikis, mensagens instantâneas) que permitem a colaboração realçando a importância do ser humano em vez das ferramentas utilizadas para comunicar.
Crédito da imagem: Pathathai Chungyam
No primeiro excerto de uma extensa pesquisa levada a cabo pelo Australian Flexible Learning Framework, foi introduzido o tópico do software social e analisado o seu impacto na vida dos indivíduos e organizações. No segundo excerto preparei e publiquei a pesquisa dedicada à crescente importância do software social nas técnicas de ensino e aprendizagem na era da Geração Net. Finalmente, no terceiro artigo extraído desta impressionante pesquisa, possíveis utilizações do software social foram analisadas e expostas.
Hoje apresento-lhe a quarta e última parte deste precioso relatório, centrado na análise dos possíveis desafios e problemas que podem surgir através do uso do software social.
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Existem grandes indícios nesta pesquisa que sugerem que a utilização de software social pode ser uma estratégia eficaz para a partilha de conhecimento e desenvolvimento de capacidades, assim como, uma forma de melhorar e reactivar a experiência de ensino e aprendizagem na formação profissional.
Um resumo dos temas de suporte, condições prévias, contextos na formação profissional e as teorias que surgem da utilização do software social, nesta pesquisa, estão representados na Figura 4.
Foram também identificados e incluídos neste artigo, tensões e desafios relacionados com a implementação de uma inovação.
Figura 4: Mapa da Aprendizagem com Software Social na formação profissional
Quem utiliza o software social para partilha de conhecimento e desenvolvimento de capacidades dentro e fora da formação profissional e dentro e fora da Austrália, valorizam a liberdade de publicar sem as limitações dos processos autocráticos; valorizam a liberdade de escolha - a possibilidade de escolher várias tecnologias de software social para responderem às necessidades dos seus clientes; a possibilidade de poderem escolher onde e como aprendem e a possibilidade de estabelecer redes informais para partilha de conhecimento.
Da mesma forma, os alunos valorizam a liberdade de publicar. Valorizam particularmente a oportunidade de negociar e/ou colaborar com os professores sobre a forma como as diferentes tecnologias podem ser utilizadas para melhorar a sua aprendizagem.
Quem utiliza o software social está radiante com esta capacidade de inspirar as pessoas a serem alunos mais independentes e disseminadores de conhecimento. Apenas pelo seu uso, estão a aprender a aprender e a aprender a partilhar, tirando proveito desse conhecimento. Atwell (2006) estuda este assunto mais aprofundadamente no seu artigo “Social Software, Personal Learning Environments and Lifelong Competency Development”
Ao fazer parte de uma rede distribuída, gestores, professores e alunos tornam-se parte de uma comunidade ou pertencem a várias comunidades. Por exemplo, o bloguing costuma mostrar o lado mais pessoal do escritor, não apenas a sua imagem - se estiver disponível, mas pela forma como escreve. Pedem-se comentários, dão-se ligações para outros bloguers e fazem-se mais contactos, tornando-se assim parte de uma comunidade.
Dois factores que contribuem para a melhoria do fluxo de trabalho e produtividade são: o imediato da publicação - já não se trabalha sob o processo autocrático de ter o trabalho enviado e publicado por profissionais das TI; e a possibilidade de "ver muita informação em tempo real" através da utilização de RSS e agregadores (veja a história de Trevor Cook).
Em vez de ter que pesquisar pela informação, o RSS pesquisa-a por si através de agregadores como por exemplo o Bloglines, apresentando-a num repositório central. O uso de bookmarking social através de sítios Web tais como o del.icio.us é outra forma de aceder rapidamente à informação através da ligação a sítios Web categorizados por tópicos de interesse (chamados de folksonomias).
Outros factores que influenciavam o melhoramento do fluxo de trabalho e produtividade foram: menor gasto de tempo e dinheiro em viagens, por exemplo com reuniões através de conferência virtual ou software como o Skype; e menores custos de impressão e distribuição com a possibilidade de aceder e fazer o download de qualquer lado.
O recurso fundamental necessário é o tempo para aprender (desenvolvimento social), com a maior parte do software social a ser grátis ou de baixo custo.
As condições necessárias para a utilização correcta do software social
Os elementos críticos identificados como condições prévias necessárias para a utilização com sucesso do software social foram: existir uma necessidade autêntica (real e não criada); ser relevante para o contexto e apropriado para o cliente, ser suportado por uma cultura organizacional permissiva num espírito de abertura e vontade de partilhar e colaborar. Os principais alavancas, incluem:
Uso do software social na formação profissional: contextos e clientes
Embora a discussão sobre onde e como o software social pode ser melhor utilizado, esteja ainda a começar, parecem existir poucos limites para os contextos de abordagem da formação na partilha de conhecimento, desenvolvimento de capacidades e espaço de trabalho. Alguns exemplos incluem:
Da mesma forma, o software social não está limitado à aplicação da formação profissional a um determinado grupo, nível, disciplina de ensino ou actividade de aprendizagem. A selecção da ferramenta de software social apropriada ao contexto e cliente é fundamental, para além de assegurar que a sua utilização é autêntica e relevante.
Adopção vs Status Quo - o uso do software social para a partilha de conhecimento, desenvolvimento de capacidades e no ensino e aprendizagem é recente. Assim, algumas das tensões que se aplicam à inovação e mudança são visíveis nas organizações que estão a começar a testar estas novas ferramentas, sendo consistentes com a teoria da Difusão da Inovação de Rogers (1995) e com o Ponto de Viragem de Gladwell.
Uma tensão crítica nos estados iniciais da adopção de uma nova tecnologia na educação é se esta é, de facto, relevante ao contexto de aprendizagem. Os inovadores e os adoptantes iniciais estão a 'trilhar o caminho', mas antes que a maioria inicial responda ao desafio, tem que ser convencida que a utilização dessa tecnologia obtém os resultados desejados de forma tão eficaz e eficiente como outras estratégias.
Permissão v Adaptação
Uma das maiores tensões foi o bloqueio de acesso, pelas firewalls da ICT, a sítios Web públicos de software social que eram utilizados por alunos e professores na formação profissional. Stuckey e Arkell (2006) defendem que existem dois ambiente críticos para a gestão de conhecimento - uma cultura de adaptação e uma cultura permissiva.
Este estudo concluiu que uma cultura de adaptação é necessária como suporte para a utilização com êxito do software social, mas reconhece que as políticas das TI são válidas. Isto suporta a tese de Stuckey e Arkell ao referir que esta tensão é contínua e que ambos podem coexistir - que uma abordagem doseada conseguirá uma sólida partilha de conhecimento. Siemens refere que um papel central dos gestores é o de remover as barreiras de forma a criar uma comunidade mais permissiva.
Existiram evidências que o posicionamento na linha da iniciativa pessoal no modelo de quatro quadrantes de Stuckey e Arkell, parece mover-se livremente de uma permissiva para uma de adaptação. E, talvez, se fique algures pelo meio, à medida que os indivíduos utilizam o software social em contexto profissional ou com clientes.
Isto pode ter uma curta duração pois à medida que colegas e alunos se tornam utilizadores mais confiantes dessas ferramentas, sentem-se mais capazes de as utilizar conforme acharem melhor. Por exemplo, professores que aceitaram o software social para uso próprio e no contexto de ensino e aprendizagem, geralmente definem como devem ser as ferramentas utilizadas inicialmente. A experiência de Petterd suporta isso:
"O que me propus a fazer mudou. Ao início criei um blogue para os meus estudantes e pedi-lhes para comentar as minhas entradas. [Permissão] Eles não comentaram, mas o que fizeram foi comentar no Deviant Art, outra ferramenta para que os contribuidores partilhem trabalhos artísticos e imagens digitais. Quando percebi onde estavam, juntei-me a eles e liguei-me com eles a outro nível. [Permissividade].
E frequentemente é tudo acerca de percepções. Por exemplo, a NSW LearnScope modelou o uso de software social para gestão de projectos e partilha de conhecimento em 2006. Às equipas foi pedido relatórios de histórico/progresso que pudessem ser publicados no seu blogue e foram encorajados a contribuir para uma wiki para o desenvolvimento colaborativo de programas de exemplo, etc. Relatórios anedóticos sugerem que algumas equipas se sentiram controladas e se ressentiram desta nova exigência enquanto que outros se sentiram motivados ao se relacionarem com novas tecnologias.
Servindo de base para a utilização de software social está uma filosofia de ligação, colaboração e comunidade. Alguns professores e profissionais da formação que utilizam o software social apontam uma reticência por parte dos alunos e colegas em participar e colaborar on-line. Para alguns é um caso de 'confiança' nas pessoas com quem vão trabalhar antes de revelarem a sua verdadeira pessoa.
"Demorámos a sentir-nos à vontade com o processo, mas a razão de o fazermos é devida aos laços e confiança que já partilhávamos (o nosso contexto social)."
Bartlett-Bragg cita a confiança como um dos inibidores que “restringe as capacidades dos alunos participarem em ambientes de software social de colaboração”.
Callahan dá outras razões pelas quais as pessoas não colaboram on-line:
Callahan também realça o bloguing de Pollard sobre este tema, onde propõe que a falta de usabilidade do software e a falta de capacidades interpessoais normalmente contribuem para a falta de colaboração.
LMS/CMS v Software Social
Há uma grande diferença de opiniões entre alguns profissionais de formação, na sua globalidade, sobre se os Sistemas de Gestão de Aprendizagem (LMS - Learning Management Systems) e/ou Sistemas de Gestão de Conteúdos (CMS - Content Management Systems) devem ou não continuar a ser utilizados em ambientes educativos e se deve o software social ser incluído nestes sistemas.
A discussão não deixa de ser um pouco filosófica, pois o software social é acerca da liberdade de escolha, é construtivo e centrado no aluno, enquanto que os LMSs e CMSs são voltados para os conteúdos, para o controlo e direccionado para os professores.
Alguns defendem que os LMSs são necessários para se manter um registo do progresso dos estudantes, enquanto outros consideram a privacidade de ensino num LMS constitui uma rede de segurança para os estudantes e o seu trabalho. Pareceu haver algum apoio dos profissionais da formação profissional para apresentar aos estudantes o software social para aprendizagem num LMS como um primeiro passo para uma responsabilização pela sua aprendizagem.
Dalsgaard defende que os sistemas de gestão são para assuntos administrativos e ”ferramentas pessoais para construção, apresentação, reflexão colaboração, etc”.
Os desafios que têm que ser ultrapassados para a adopção do software social com sucesso incluem:
"Na realidade, uma questão fundamental na sociedade da informação é que, à medida que as actividades se tornam mais mediadas pelas TI, os “analistas da verdade” convencionais começam a perder a habilidade de tomar decisões. Num mundo digital, sistemas sociais alternativos de confiança são estabelecidos para compensar a ausência de autoridade, familiaridade e presença física. Um exemplo é o sistema de reputação oferecido pelo eBay, onde cada comprador e vendedor tem uma pontuação que fomenta a confiança entre pessoas que não se conhecem. (Purie et al. 2006 p 36)"
"Então se considerarmos a situação com os nossos estudantes - existe este preconceito que a geração mais jovem é mais capaz com as tecnologias do que nós. Isto é definitivamente um mito. Eles são bons a utilizar a tecnologia como a querem utilizar - como em jogos, mensagens, sms. Mas isso não significa que são bons em utilizá-la para o e-learning, na realidade, são muitas vezes utilizadores relutantes da tecnologia - alguns até a odeiam."
Muitos inquiridos podem ser considerados como educados digitais e talvez isto tenha contribuído para a rápida adopção das tecnologias. Da mesma forma, a razão identificada por alguns por não continuarem com software social foi a sua falta de competências em TI, a reticência em aprender outra tecnologia nova, e falta de tempo para aprender.
RSS e os agregadores são considerados a chave ou a 'cola' para a utilização eficaz e eficiente de software social. Eles direccionam o tráfego e trazem o conhecimento até si. No entanto a pesquisa revelou que esta área é a mais difícil de compreender. Alguns inquiridos que utilizam o software social para a partilha de conhecimento indicaram que ainda não o utilizam bem. Social bookmarking é também incompreendido. Esforços podem ser necessários para aumentar a compreensão sobre estas ferramentas.
Este artigo é um excerto do relatório originalmente chamado "Networks, Connections and Community: Learning with Social Software”, escrito por Val Evans, em colaboração com Larraine J Larri. Foi reproduzido com a permissão do Australian Flexible Learning Framework.
Leia a Parte I: Software Social: O Que É E Como Afecta Indivíduos E Organizações
Leia a Parte II: Software Social E O Seu Contributo Para O Ensino E Aprendizagem
Leia a Parte II: Software Social E O Seu Contributo Para O Ensino E Aprendizagem
Val Evans é o presidente da Val Evans Consulting e investigador no campo do software social. O relatório foi escrito em colaboração com Larraine J Larri da Renshaw-Hitchen and Associates Pty Ltd.
Sobre o Australian Flexible Learning Framework
A estratégia de e-learning da formação nacional, o Australian Flexible Learning Framework (Framework), financia Redes para permitir aos professores e formadores de toda a Austrália partilhar conhecimento e sobre assuntos de e-learning prementes. O Networks Community Forum é um lugar onde profissionais de educação e formação podem-se reunir para aumentar o seu desenvolvimento profissional em relação à inttegração de tecnologia ne educação e formação. Registe-se aqui. ‘E-Trends’ é o tema do evento on-line de Junho, a ter lugar nos dias 19 e 20 de Junho. Este programa inclui cerca de 14 sessões assíncronas de aulas ao vivo e várias discussões assíncronas.
Créditos das Imagens
Mãos: Marc Dietrich
Pugilistas: Nicholas Sutcliffe