O Software Social é um conceito que engloba o mundo constituído por todos os sistemas de interacção baseados na Internet (p. ex. wikis, blogues, programas de mensagens instantâneas, podcasts). Estes sistemas permitem a colaboração e comunicação à distância ao aproveitar o potencial humano em vez das tecnologias que tornam possíveis estas interacções.
Crédito da imagem: Alexandre Stolbstov
No primeiro artigo dedicado a este assunto analisámos o fenómeno do software social e o impacto nas vidas dos indivíduos e organizações, enquanto que no segundo analisámos a sua cada vez maior influência no ensino e aprendizagem na era da Geração Net.
Demos conta da influência positiva que o software social pode exercer, ao ser confrontado com o ensino e aprendizagem tradicionais, fomentando novas vertentes dos indivíduos (neste caso alunos e profissionais de ensino) que colaboram através de meios que realçam a sua criatividade e receptividade.
O artigo que apresento hoje é o terceiro artigo que extraí do fascinante relatório da Australian Flexible Learning Framework e que se foca exclusivamente na análise dos potenciais usos do software social no futuro, suportado pelos dados da pesquisa já disponíveis.
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Aos contadores de histórias foi pedido que visualizassem um futuro que incorporasse o uso do software social para partilha de conhecimento, desenvolvimento de capacidades e veiculação de formação profissional. O propósito era reunir uma consenso em torno do 'como seria' se o software social fosse mais adoptado por quem ministra a formação profissional. Foi criada uma forte crença que este futuro está muito próximo!
Nesta história, Trevor Cook, um Director da Jackson Wells Morris aponta:
"O software social obriga-nos a repensar completamente os nossos métodos e formas de aplicação em muitas actividades. Já está a acontecer nos média e em muitas outras indústrias de telecomunicações, desde a música à indústria livreira."
Com isto concorda Semple, antigo Knowledge Manager na BBC e agora um consultor independente. Nesta história, Semple fala sobre as futuras mudanças serem "muito profundas" e diz que o futuro
"… não é apenas como as pessoas aprendem - é como as organizações se vêm e como fazem negócios."
Obrigatória para esta visão é a noção que a 'Geração Net' é uma parte significativa deste futuro. A obra de Oblinger (2005), Semple e outras fontes, todas referem a nova geração de alunos e trabalhadores como aqueles que forçam a mudança. Compreendem que a 'Geração Net' tem diferentes expectativas e não tolera a lentidão.
Já estão comprometidos com o software social e a fazer ligações e partilhar conhecimento. A 'Geração Net' é um condutor importante na actualização das novas tecnologias, para além das empresas e da sua busca pela eficiência. As organizações e as empresas têm que se 'mexer'.
O sentimento de urgência é talvez forçado pela convergência da natureza mutável do trabalho e aprendizagem numa era de conhecimento e pela resposta às necessidades da 'Geração Net'.
Em referência aos 'nativos digitais', Jennings, Líder Global da Learning Reuters, disse ao Global Summit:
"Esta geração é composta por pessoas multi-tarefa natos (ou, pelo menos, bons aprendizes). Utilizam naturalmente a tecnologia para comunicar dentro e fora das suas vidas profissionais."
A necessidade da alteração das experiências de aprendizagem para responder às necessidades de uma nova geração de alunos foi discutida já em 2003 com Norris et al defendendo:
"Num mundo de tecnologias naturais, redes de conhecimento disseminado e alunos multitarefa, a dinâmica das experiências de aprendizagem deve mudar para ser útil à nova geração de alunos."
Nesta pesquisa, duas estratégias vistas como uma parte de um futuro apoio ao uso do software social com sucesso, incluía o uso de wikis empresariais e ambientes de ensino pessoais.
A história de Semple conta como a BBC utiliza wikis internamente e nota que os colaboradores pareciam mais confortáveis utilizando os wikis como ponto de partida. A ideia é que estão a ”a trabalhar ou a fazer algo”. Noteboom cita a estratégia de Dodds (2006) para a criação de wikis empresariais na sua empresa, Ingenta. O seu plano de implementação incluía:
"A aprendizagem é vista como algo que acontece em várias etapas, com os indivíduos a passarem períodos ocasionais de educação formal e formação ao longo da sua vida profissional. O conceito de um Ambiente de Aprendizagem Pessoal reconhece que a aprendizagem é contínua e procura dar ferramentas para suportar essa aprendizagem. Também reconhece o papel do indivíduo em organizar a sua própria aprendizagem.Além disso, as pressões para um PLE são baseadas na ideia de que a aprendizagem terá lugar em diferentes contextos e situações e não será fornecida por uma só fonte. Associado a tudo isto está um cada vez maior reconhecimento da importância da aprendizagem informal. Computação e software social omnipresentes estão a mudar a forma como aprendemos."
Outras visões para o futuro relativo ao uso do software social foram:
Aos inquiridos foi-lhes perguntado sobre o uso previsto de software social durante os próximos dois anos em relação ao presente. O corpo docente da formação profissional afirmou que a utilização actual do software social com os estudantes acontecia em semanas dispersas (29%) e em relação ao uso nos próximos dois anos manifestou a intenção de o utilizar pelo menos uma vez por dia (46%). (Veja a Tabela 8)
Tabela 8: Uso previsto de software social durante os próximos dois anos
As taxonomias de ensino são integrais para o processo de ensino e aprendizagem e as novas teorias e modelos que compõem as taxonomias estão agora a justificar a prática. Foram feitas referências anteriores neste relatório às mais importantes:
Outros conceitos e modelos emergentes que podem informar a implementação de software social incluem: a ecologia de ensino, e-Learning 2.0; Aprendizagem ao longo da vida para desenvolvimento de capacidades e abordagem doseada.
A ecologia de ensino
Siemens (2006) recentemente propôs o conceito de uma ecologia de ensino para representar o ensino nesta nova era de conhecimento. Não só o conhecimento não reside num lugar determinado mas a aprendizagem tornou-se numa "rede de elementos distribuídos".
Siemens representa as ecologias como “complexas, sistémicas e adaptativas - capazes de reagir e ajustar-se a pressões externas e desenvolvimentos internos”. Devido à sua natureza, uma ecologia de ensino é autónoma e adapta-se às diferentes forças que têm impacto no sistema.
A metáfora de ecologia de ensino não é nova. Staron et al (2006) também utilizam a metáfora de ecologia de ensino para uma melhor compreensão da natureza mutável da aprendizagem na era de conhecimento e como uma abordagem pela força pode ser utilizada para desenvolvimento de capacidades neste contexto.
e-Learning 2.0
Stephen Downes (2005) atribuiu o termo e-Learning 2.0 em reconhecimento da evolução do e-learning nas comunidades e as tecnologias da Web 2.0 estão a tornar-se componentes essenciais do e-learning.
Downes explica que a diferença entre o e-Learning 2.0 e o e-Learning 1.0 é que os tópicos e o conteúdo de ensino já não são direccionados por plataformas on-line como os LMSs e os CMSs. Em vez disso, os alunos estão evoluem enquanto procuram por eles mesmos oportunidades de aprendizagem, fazendo ligações e formando comunidades de prática.
Aprendizagem ao longo da vida para o desenvolvimento de capacidades
A aprendizagem ao longo da vida (Staron et al 2006) é uma abordagem baseada em força, para o desenvolvimento de capacidades, que foi criada através de um estudo de estratégias apropriadas para quem exerce a formação profissional e trabalha e aprende em ambientes de ensino ”cada vez mais incertos, complexos e paradoxais”. É este o ambiente aonde o software social está a começar a ser utilizado.
A aprendizagem ao longo da vida, segundo se defende, é o próximo passo no desenvolvimento pessoal e aumenta o potencial dos modelos anteriores de aprendizagem baseada no trabalho e, no ensino centrado em experts reconhecendo o aluno como uma ”pessoa completa” - alguém que aprenderá através de experiências de trabalho, pessoais, lazer e familia.
Faz sentido utilizar um modelo contemporâneo de desenvolvimento de capacidades para que, quem exerce a formação profissional, possa desenvolver as suas competências necessárias para utilizarem o software social de forma eficaz para partilha de conhecimento, aprendizagem pessoal e dos seus alunos.
A pesquisa Phase 1 Knowledge Sharing Service levada a cabo por Stuckey e Arkell (2006) realçou um ênfase cultural para um grupo de actividades de partilha de actividades que auxiliam quem exerce a formação profissional:
"…resolver novos e singulares problemas e aceder a conhecimento que poderá não ser possível codificar em documentos. As pessoas nem sempre estão a lidar com problemas 'comodistas', como truques e dicas técnicas, que podem ser facilmente ser acedidas através de um repositório. Muitos problemas são complexos e mal estruturados por natureza (p. 7)"
O estudo Phase 1 reconheceu o valor da integração de processos sociais em sistemas de gestão de conhecimento e identificou o software social como o veículo através do qual tal pode ser atingido. Desta forma as pessoas podem aceder à experiência de outros de uma forma afortunada/emergente que tira partido dos processos que obtêm alterações de conhecimento tácito para explícito.
Ambos os seguintes conceitos referem-se à partilha de conhecimento e demonstram o desenvolvimento do pensamento desde o estudo de Stuckey e Arkell:
Como parte do estudo Phase 1, dois ambiente críticos para a gestão de conhecimento foram descritos como:
Figura 3: O ênfase das novas ferramentas de software social (Stuckey e Arkell 2006)
Esta pesquisa Phase 2 reconhece esta dualidade e a importância de ambas as culturas co-existirem em organizações de formação profissional. Cada cultura serve uma função essencial. Stuckey e Arkell promovem uma aproximação doseada entre as duas culturas polarizadas para que atinjam uma partilha de conhecimento auto-suficiente.
Por um lado, as organizações precisam de fornecer conhecimento corporativo e por outro, têm que fornecer ambientes onde pensamento inovador e colaborativo possa acontecer. Este últimos ambientes são dependentes dos processos sociais que incentivam a iniciativa pessoal.
Continuando as ideias da Phase 1 sobre uma “abordagem doseada para atingir uma partilha de conhecimento auto-suficiente”, tem que ser referido que os ambientes empresariais da formação profissional são “… dinâmicos, diversos e caracterizados por uma mudança constante…” (Staron et al 2006 p. 3). Funcionam na Era do Conhecimento e são dominados por trabalho de conhecimento.
"Esta forma de trabalho é não linear e não rotineira, mais intuitiva, oportunista e interligada e menos dirigida por obediências a caminhos críticos pré-planeados ou mentalidades e, então, menos inovadores. (Staron et al 2006 p. 3)"
As implicações são que o conceito de equilíbrio é um de contra-peso (i.e. equilíbrio funcional dinâmico) ou de homeostase (um processo de regulação interna constante em resposta a circunstâncias alteráveis). Esta pesquisa Phase 2 vê a obtenção de uma abordagem doseada como uma aventura permanente, em vez de um ponto alcançável.
Coloca este conceito num contexto de gestão alternada e utiliza a adopção e difusão da inovação para compreender como pode ser inicialmente vista uma ferramenta de software social como sendo herética e, tempos depois, integral, i.e. em relação à Figura 3 vão do canto inferior esquerdo (informal/orientadas individualmente) para o superior direito (formal/orientadas institucionalmente)
Este artigo é um excerto do relatório originalmente chamado "Networks, Connections and Community: Learning with Social Software”, escrito por Val Evans, em colaboração com Larraine J Larri. Foi reproduzido com a permissão do Australian Flexible Learning Framework.
Leia a Parte I: Software Social: O Que É E Como Afecta Indivíduos E Organizações
Leia a Parte II: Software Social E O Seu Contributo Para O Ensino E Aprendizagem
Val Evans é o presidente da Val Evans Consulting e investigador no campo do software social. O relatório foi escrito em colaboração com Larraine J Larri da Renshaw-Hitchen and Associates Pty Ltd.
Sobre o Australian Flexible Learning Framework
A estratégia de e-learning da formação nacional, o Australian Flexible Learning Framework (Framework), financia Redes para permitir aos professores e formadores de toda a Austrália partilhar conhecimento e sobre assuntos de e-learning prementes. O Networks Community Forum é um lugar onde profissionais de educação e formação podem-se reunir para aumentar o seu desenvolvimento profissional em relação à inttegração de tecnologia ne educação e formação. Registe-se aqui. ‘E-Trends’ é o tema do evento on-line de Junho, a ter lugar nos dias 19 e 20 de Junho. Este programa inclui cerca de 14 sessões assíncronas de aulas ao vivo e várias discussões assíncronas.
Créditos das Imagens
Olho: Petr Gnuskin
Val Evans - Livia Iacolare -